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Ricardo Nicolau: ‘Sou pré-candidato a governador. Quero ser o gestor que o Amazonas precisa’

O deputado estadual e pré-candidato ao governo do Amazonas, Ricardo Nicolau, segue para a segunda eleição majoritária com discurso voltado para eficiência no setor público. Filiado desde março deste ano no Partido Solidariedade, o parlamentar se apresenta como alternativa aos velhos caciques políticos, sem abrir mão da experiência acumulada nos 30 anos na gestão hospitalar de uma rede privada somada às mais de duas décadas dedicadas ao serviço público.

Ricardo Nicolau está no quinto mandato de deputado estadual, já foi presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (Aleam) entre 2011 e 2012 e, ainda, vereador de Manaus no final da década de 1990. Nas eleições de 2020, concorreu ao cargo de prefeito de Manaus, tendo conquistado mais de 118 mil eleitores.

Crítico da atual gestão do governo, Ricardo Nicolau afirmou que o Amazonas está no fundo do poço. Em entrevista à equipe de reportagem, o parlamentar elencou o caos no gerenciamento da pandemia de Covid-19 como principal erro do seu adversário, o governador Wilson Lima, e disse que era possível adotar medidas para evitar a falta de oxigênio nos hospitais públicos em 2021.

Má gestão de recursos públicos, explosão da violência e apatia do governador diante dos ataques ao modelo Zona Franca de Manaus (ZFM) também são alvo das críticas de Nicolau. O pré-candidato propõe uma gestão mais eficaz para o Amazonas.

Com exclusividade, confira a entrevista com Ricardo Nicolau na íntegra:

Reportagem: Na eleição de 2020, o senhor teve um bom desempenho na disputa pela prefeitura de Manaus. Agora, aos 46 anos, é pré-candidato a governador do Amazonas. Por que quer ser governador em vez de tentar uma possível reeleição na Assembleia?

Ricardo Nicolau: O parlamento brasileiro, em todas as Assembleias e no Congresso, tem uma atuação limitada. No Legislativo, a gente tem dificuldade de fazer a ação concreta de melhorar a vida das pessoas. Cansei de ‘dar murro em ponta de faca’. Eu indicava as soluções para os governos e eles não faziam. Saio de uma zona de conforto para realizar um desejo de dar uma maior contribuição para o estado. A situação não está boa, basta ver o caos na segurança pública e na saúde. Daí veio a vontade de participar da eleição majoritária. A nossa pré-candidatura tem o papel de ouvir as pessoas e criar um plano de desenvolvimento que venha, efetivamente, enfrentar os problemas crônicos do nosso estado. Eu sei que é possível tirar o Amazonas do fundo do poço e sou pré-candidato a governador porque quero ser o gestor que o nosso estado precisa.

RP: Por que o senhor escolheu o partido Solidariedade para disputar essa eleição?

RN: O Solidariedade é um partido que me deu garantias de que vai ajudar a resgatar o Amazonas da situação em que está. Vamos formar uma equipe para debater os problemas e propor soluções, e o Solidariedade faz parte deste processo de mudança. A prova que o meu partido defende o nosso estado é a Ação Direta de Inconstitucionalidade que o presidente da Executiva Nacional, deputado federal Paulo da Força, ingressou – a pedido da bancada federal – no Supremo Tribunal Federal contra os decretos federais que ameaçavam 500 mil empregos diretos e indiretos na Zona Franca de Manaus. Hoje, pais e mães de famílias que trabalham no Distrito Industrial estão com empregos assegurados e isso só foi possível graças a essa medida e, mesmo assim, continuamos vigilantes.

RP: Sobre essa questão dos decretos federais que mexiam nas alíquotas do IPI e que, na prática, prejudicavam as indústrias do Amazonas, o senhor acredita que o governo do Amazonas demorou muito a reagir?

RN: O governo do estado que tinha prerrogativa e a obrigação de fazer essa defesa da Zona Franca de Manaus e não fez. Demorou mais de 60 dias para ingressar com a ação e, no fim das contas, o que valeu mesmo foi a medida ingressada pelo meu partido. Faltou articulação política e pulso firme. Um governador não pode ter medo de defender o seu estado e nem podia tentar fazer acordo eleitoral em um tema que colocava em risco os empregos dos amazonenses.

RP: O senhor preside a Comissão de Assuntos Econômicos da Aleam, uma das mais importantes da Casa Legislativa. É possível ampliar a nossa economia principalmente para o interior do estado?

RN: Nós temos um parque industrial moderno, mas que está aqui só por conta das isenções fiscais. Nunca houve um projeto efetivo de geração de emprego e renda que atraísse novos investimentos na capital e no interior. Já ouvi muitos relatos de empresários que queriam investir no Amazonas, mas que sequer foram recebidos pelo governador. O Amazonas é rico em nióbio e potássio, e a população está em cima de toda essa riqueza e passando necessidade. Temos potencial para ter um grande polo petroquímico. Mas, ao longo dos anos, os governos estaduais só se preocuparam em criar programas midiáticos, que nada resolvem. É preciso atrair novas indústrias e promover, nas cidades do interior, estímulos à produção rural que hoje representa apenas 6% do PIB do estado. Temos um estado rico de recursos, mas com uma população passando necessidade. Não podemos abrir mão da Zona Franca, mas precisamos ampliar e diversificar a nossa economia de forma sustentável, respeitando o meio ambiente e, assim, gerar emprego e renda para as pessoas.

RP: Inclusive, há uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), de sua autoria, que obriga o governo a repassar 100% das verbas do Fundo de Fomento ao Turismo (FTI) para os municípios. Hoje, o Executivo Estadual usa esse dinheiro para outras áreas. Como isso prejudica a população do interior?

RN: Cada cidade tem as suas potencialidades, mas infelizmente o interior carece de investimentos. Não basta colocar propaganda da televisão ou fazer convênio para asfalto às vésperas da eleição e a população continuar carente de tudo. Eu tenho pedido apoio dos municípios para essa PEC do FTI. É um dinheiro que está sendo desviado pelo governo para outras funções desde quando foi criado, em 2003. Por exemplo: as despesas do sistema penitenciário, que consome R$ 500 milhões por ano, são pagas com o FTI. O aluguel de carros do governo também. Até o famoso caso da compra dos respiradores na loja de vinho teve recursos do FTI. Só este ano, esse fundo deve arrecadar cerca de R$ 1,6 bilhão e esse dinheiro faz muita falta. Esses dias eu fui para Presidente Figueiredo e me assustei com a quantidade de buracos em toda cidade que tem como uma das principais atividades econômicas o turismo das cachoeiras. Mas como é que os empreendedores vão atrair mais turistas se a cidade não tem infraestrutura básica? Quantos empregos não deixaram de ser gerados? E essa situação se espalha para outras cidades. Apresentei a PEC para obrigar que o Estado invista 100% dos recursos em infraestrutura, saúde, no desenvolvimento dos municípios e em educação. Afinal, não existe desenvolvimento sem recursos e dinheiro circulando. Nossas escolas do interior e também da capital estão paradas no tempo. Precisamos fazer com que a educação no Amazonas entre na era digital. Hoje, já existem lousas e conteúdos digitais na internet. Já há tecnologia via satélite que permite à internet chegar em todo lugar. A educação precisa sair do passado e entrar no futuro.

RP: O Amazonas vive hoje uma crise na segurança pública com aumento de 54% das mortes violentas, segundo o Monitor da Violência, além do grande número de assaltos. O que poderia mudar esse quadro?

RN: O governo do Amazonas faz Segurança Pública como se fazia há cem anos, com zero tecnologia. Aliás, mesmo com tantas críticas ainda vemos nas ruas de Manaus os cavaletes dizendo ‘aqui tem segurança’. Isso parece piada, mas não é. Para combater o crime é preciso investir em tecnologia como, por exemplo, usar as câmeras de reconhecimento facial para identificar os criminosos que assaltam os passageiros do transporte coletivo. E há muito dinheiro para isso. Nos últimos três anos, o governo gastou quase R$ 6 bilhões e, mesmo assim, o Amazonas segue na contramão do país com altos índices de violência. No interior, a coisa piora. O caso dos homicídios do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Philips escancarou, para o mundo inteiro, a completa falta de controle do governo do Amazonas na Segurança Pública em municípios da fronteira. As tropas das polícias estão desvalorizadas e sem estrutura para combater o crime.

RP: O senhor é um dos críticos da forma como o Amazonas lidou com a pandemia da Covid-19. Era possível evitar a falta de oxigênio nos hospitais como ocorreu nos dias 14 e 15 de fevereiro do ano passado?

RN: A rede pública soube do problema do oxigênio quatro dias antes da crise. Por qual motivo então faltou oxigênio em vários hospitais e SPAs? Até hoje centenas de famílias sofrem porque perdem parentes naqueles dias trágicos que jamais deveriam ser esquecidos. Por falta de gestão, as pessoas morreram, infelizmente. O atual governo do Amazonas é um erro que custou quatro anos e milhares de vidas.

RP: Além de ser deputado estadual, o senhor é conhecido pelo trabalho realizado no setor privado na área da saúde. Como seria possível aproveitar toda essa experiência no cargo de governador? É possível aplicar as mesmas técnicas e ferramentas de planejamento da iniciativa privada no poder público?

RN: A saúde do Amazonas ainda está na UTI. Mesmo com as duas ondas de contaminação de Covid-19, os hospitais e SPAs continuaram desordenados. Nada mudou. Falta gestão e eu te dou um exemplo: a maioria das cirurgias no Amazonas é feita com a técnica convencional. O paciente que retira a vesícula por esse método leva três dias para receber alta. Na cirurgia por vídeo, usando essa tecnologia, o tempo de internação cai para 24 horas. Isso mostra que é possível fazer três vezes mais cirurgias tornando todo o processo mais eficiente. Para fazer isso é preciso modernizar os centros cirúrgicos e dinheiro para isso, o Estado tem. Como pré-candidato a governador, quero pegar toda minha experiência no setor privado, como no Hospital e Pronto-Socorro dos Acidentados, na Sociedade Pró-Saúde Dr. Luiz Fernando e no Grupo Samel, e trabalhar nas reais soluções que o nosso estado necessita, não apenas na saúde, mas em todas as áreas.

RP: Na sua visão, o gerenciamento dos recursos está sendo feito de forma errada?

RN: O Amazonas teve aumento de 31% na arrecadação só nos quatro primeiros meses deste ano: são mais de R$ 9 bilhões em quatro meses, fora o que já foi arrecadado no ano passado. Há uma péssima gestão dos recursos e isso resulta nas longas filas para cirurgias, que demoraram meses e até anos, e colocam em risco os pacientes. O Hospital 28 de Agosto atende urgências cardiológicas, mas não tem um equipamento de hemodinâmica. O hospital João Lúcio não tem o aparelho de ressonância para atender os pacientes. O Amazonas lidera o triste ranking de mulheres com câncer de colo de útero. Destinei mais de R$ 4 milhões para cidades do Amazonas para que façam exames preventivos. Também destaquei emendas de mais de R$ 3 milhões para a construção do Centro Avançado de Prevenção ao Câncer do Colo do Útero. O problema é que o governo demorou mais de um ano para tirar esse projeto do papel. Governar é eleger prioridades, mas este governo gastou quase R$ 200 milhões no ano passado com propaganda e nenhum real com o Fundo Estadual de Cultura, só para citar um exemplo. Essa é a prova que eles estão no caminho errado e o Amazonas não pode mais continuar no fundo do poço.