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Jovem escrivã que tirou a própria vida sofria assédio moral e sexu4l de colegas da Polícia Civil

Brasil – A tristeza e o choro da mãe Zuraide Drummond, auxiliar veterinária de 57 anos, são reflexo do desabafo carregado de angústia sobre o sonho de sua filha, Rafaela Drummond, escrivã de 32 anos que acabou tirando sua própria vida. A morte da servidora da Polícia Civil de Minas Gerais, lotada em Carandaí, na região da Zona da Mata, lança luz sobre a pressão psicológica enfrentada pelos profissionais, evidenciada pelos áudios deixados por ela, nos quais menciona a pressão e o assédio moral e sexual que sofria no ambiente do próprio trabalho.

Esse trágico episódio de autoextermínio revela um problema mais profundo dentro da corporação: a falta de estrutura e a consequente deterioração da saúde mental dos servidores. O Sindicato dos Servidores da Polícia Civil no Estado de Minas Gerais (Sindpol-MG) aponta diversos fatores que contribuem para essa situação, incluindo a falta de equipamentos adequados e condições precárias de trabalho nas delegacias, além do déficit de cerca de 7 mil servidores na instituição. Segundo o sindicato, a quantidade atual de 10 mil policiais civis em atividade é inferior aos 17.500 necessários, o que potencializa os casos de assédio moral e leva os servidores a problemas de saúde mental. Wemerson Oliveira, presidente do Sindpol-MG, alerta: “Esse é um grande problema. Nem todos conseguem suportar essa pressão. Só neste ano, tivemos quatro suicídios entre servidores da Polícia Civil.” A escrivã perdeu a vida no último final de semana em Barbacena, na região do Campo das Vertentes. Áudios e vídeos compartilhados por ela apontam para um possível cenário de assédio moral, assédio sexual, sobrecarga de trabalho e ingerência de seus superiores. O Sindicato dos Escrivães de Polícia Civil no Estado de Minas Gerais (Sindep-MG) destaca que outros servidores que atuam na mesma delegacia em Carandaí também sofrem com essa situação. O sindicato ressalta a preocupação com a saúde mental dos profissionais e critica a falta de atenção das autoridades responsáveis: “Os policiais estão adoecendo de forma muito perigosa, e o cuidado com a saúde mental de nossos valorosos policiais não tem recebido a devida atenção. A polícia está doente, e aqueles que deveriam cuidar desses profissionais estão fingindo não ver.” De acordo com o Anuário de Segurança Pública divulgado em 2022, Minas Gerais é o segundo estado com maior número de suicídios entre policiais civis. No último ano analisado pelo estudo, 2021, foram registradas três mortes, ficando atrás apenas de São Paulo, que teve oito casos. O levantamento considera os dados disponibilizados pela Secretaria de Estado de Segurança Pública e/ou Defesa Social, além das polícias Civil e Militar. Wemerson Oliveira, presidente do Sindpol-MG, destaca a gravidade da situação: “É uma situação que vai além do salário ruim. Hoje, há policiais que precisam comprar seu próprio material de trabalho e tirar dinheiro do próprio bolso. Além disso, há coletes vencidos, armamentos inadequados para as necessidades de uma polícia investigativa, sem contar a falta de servidores. Tudo isso contribui para o adoecimento psicológico.” As circunstâncias da morte da servidora estão sendo investigadas pelo Sindep, que está analisando os áudios e vídeos que denunciam episódios de violência. Em um dos materiais recebidos pelo sindicato, é possível ouvir ameaças, assédio moral e comentários machistas dirigidos à escrivã, supostamente por um superior hierárquico. “Eu te chamei de piranha. Risos. É muito cabecinha fraca, é muito cabecinha fraca. (…) Eu não bato em mulher, mas se você fosse homem, uma hora dessas, ou eu ou você, estaria morto”, revela trecho de um dos vídeos. Com base nesse material e na apuração das denúncias, o Sindep-MG está exigindo a realização de uma audiência pública para discutir o assunto. O sindicato deseja que os suspeitos de assédio e ameaças à servidora expliquem suas ações durante o encontro, que deverá contar com a presença de autoridades públicas, amigos e familiares da escrivã. “O sindicato está cumprindo seu papel de cobrar providências. Infelizmente, existem mais pessoas à beira do limite. O Estado precisa priorizar a saúde mental dos profissionais de segurança”, completa o sindicato.

Fonte: Portal Cm7