Amazonas – O passado sombrio do deputado federal Sidney Leite (PSD) volta à repercutir após cinco anos e a população cobra por respostas. Afinal, no que resultou a denúncia que acusava o político de estupro contra uma criança de 12 anos?
No livro sagrado, consta que ”Não há nada escondido que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a se tornar conhecido”, Mateus 10:26. Por mais que a história tenha sido abafada por anos e rotulada como sensacionalismo da mídia para prejudicar a candidatura do político em época de eleição, as vítimas e seus familiares ainda cobram por Justiça.
Em 2016, o procurador-geral de Justiça do AM, Fábio Monteiro, apresentou a denúncia contra o deputado, na época estadual, pelo estupro de uma criança de 12 anos e tortura contra a irmã dela, ocorridos em maio de 2004, quando Sidney era prefeito do município de Maués.
Na época a denúncia foi registrada no número 007/2016, protocolizada no dia 13 de maio deste ano e elaborada com base no Procedimento Investigatório Criminal 807/2016.
O processo (4002054-24.2016.8.04.000) corria em segredo de Justiça sob a relatoria do desembargador Paulo Cesar Caminha e Lima. Na denúncia, o procurador Fábio afirmava na pagina 17, que na análise dos autos, verificou-se indícios suficientes da prática dos dois crimes (estupro e tortura) contra as crianças citadas no processo.
O estupro
A família das vítimas havia denunciado os crimes ao Ministério Público Federal, no dia 12 de julho de 2004. Na época, a criança que sofreu o abuso relatou que comemorava o título de campeã com sua irmã e outras garotas em um torneio na comunidade Bom Jesus, na zona rural de Maués, quando o prefeito Sidney Leite fez a entrega das medalhas aos vencedores e conversou com as crianças que estavam no local.
À noite, quando a vítima retornava ao barco que a levou para a comunidade, o assessor de Sidney, identificado como Herlito Carlos Nunes, o ”Teló”, a abordou e alegou que o prefeito gostaria de ter uma conversa com ela em particular alegando que pretendia ajudar a mãe dela, que na época, se tratava de um câncer. Ele a levou para outro barco onde estava Sidney e segundo a criança, foi o local onde ocorreu o abuso.
Depoimento da criança
Ao dar detalhes do crime em seu depoimento, a criança disse que Sidney a mandou entrar no barco, argumentando que os dois iriam “apenas conversar” e que “não era para ela ter medo”. A menina afirmou que ainda chegou a pedir para o prefeito não fechar a porta do camarote, mas ele não atendeu ao pedido, alegando que o local poderia ficar quente já que o ar condicionado estava ligado. Nesse momento, o assessor que levou a criança até o barco aguardava a menina do lado de fora.
Sidney pediu para que a criança sentasse na cama e falou para ela ficar calma, “pois ajudaria sua mãe doente, levando-a até Manaus para tratamento”, dando a elas toda a “assistência necessária”. Na ocasião, o deputado perguntou da menina se ela ainda era virgem. E tendo ela respondido que “sim”, o então prefeito sorriu e afirmou que a vítima mentia, “pois não existiam mais meninas na idade dela que ainda fossem virgens”.
Sidney Leite pediu para a criança tirar a roupa e tendo a menina respondido que “não” ia fazê-lo, ele gritou afirmando que a garota não sairia do barco enquanto não atendesse ao pedido dele e a mandou calar a boca. No mesmo momento, o próprio deputado deitou a menina na cama e tirou a roupa dela, mesmo a vítima pedindo que ele parasse.
E após retirar toda a roupa da garota, ele se despiu, colocou o preservativo em seu órgão sexual e deitou-se sobre a menina. Na ocasião, Sidney pediu para a menina não ter medo, que a relação “não iria doer” e em seguida segurou os dois braços dela e passou a ter relações sexuais com a criança e, antes de terminar, ele a mandava calar a boca afirmando que “estava perto de conseguir a vitória”. A criança disse que não entendia o que ele queria dizer, mas ficou com medo de pedir socorro.
E após terminar o ato sexual, Sidney retirou o preservativo e chegou a dizer que ela “não tinha sangrado muito”, pediu para a criança se limpar com papel higiênico e ordenou que ela fosse embora e não falasse nada a ninguém.
A tortura
Ao saber que as duas irmãs tinham prestado depoimento do crime ao Ministério Público Federal, o diretor da escola delas, Leonilson Tavares de Melo, e um homem identificado como Zózimo da Costa, as procuraram para constrangê-las e ameaçá-las de assassinar a mãe das meninas, caso elas prosseguissem com a denúncia. Eles queriam obrigá-las a dizer que a denúncia de estupro era uma armação política e levaram as meninas para um local onde elas deveriam gravar essas declarações.
Durante todo o momento da conversa, os homens pediam para as meninas pensarem na sua mãe que estava em Manaus, na época, e que era muito “fácil acabar com a vida dela”. E após a conversa, as duas meninas foram encaminhadas a uma casa e colocadas em um quarto, onde havia câmeras, tripés além de várias pessoas gravando a declaração que os dois homens pediram para elas fizessem durante o percurso.
Antes de pedirem para elas iniciarem a gravação, os dois homens orientaram as crianças a falarem de forma “tranquila e clara” e com isso estariam “fazendo um bem à mãe delas”. A gravação das meninas, na época, chegou a circular todo o município de Maués e mesmo assim as crianças e família continuaram sendo perseguidas, sendo obrigadas a mudarem de cidade e passaram a morar em Itacoatiara (a 270 quilômetros de Manaus). Mesmo em outro município, a família das duas crianças continuou a ser perseguida pelos assessores de Sidney Leite, segundo o depoimento das vítimas. Foi então, que a família decidiu morar em Manaus.
A vítima, que hoje tem 24 anos, disse que sua vida nunca mais foi a mesma após o estupro e que até hoje faz tratamento psicológico.
Mídia censurada
Na época, alguns portais de notícia foram condenados por divulgarem o caso e outros também acabaram ficando receosos de serem penalizados por continuarem falando sobre o assunto. A mídia foi julgada por divulgar ‘notícias falsas’ referente a Sidney Leite, pois o caso repercutiu justamente no período de eleição.
Em 2023, após 19 anos do crime, que aconteceu em 2004 e só foi denunciado em 2o16, o caso ainda é um mistério. Afinal, o que resultou a denúncia? A investigação foi encerrada? O político foi inocentado? A censura ainda permanece e impede a população de saber a verdade.
Com informações do Blog do Pávulo, Portal Fiscaliza Manaus e Portal do Zacarias.