Manaus – O clima natalino parece ter chegado mais cedo na Câmara Municipal de Manaus (CMM). Os vereadores aprovaram um aumento de 37,3% em seus próprios salários, a partir de janeiro de 2025. Com isso, o salário passará de R$ 18 mil para R$ 24,7 mil no primeiro mês do ano, elevando-se para R$ 26 mil mensais até o fim da legislatura em 2028. Este reajuste ocorre em meio a um cenário econômico desafiador, com inflação elevada e crise econômica em curso.
O presidente da CMM, vereador Caio André (União), defendeu a aprovação do projeto, alegando que o reajuste é uma “necessidade” para cumprir a legislação que permite que os subsídios dos vereadores sejam ajustados até 75% do salário dos deputados estaduais, atualmente em R$ 33 mil. Com o reajuste dos deputados previsto para 2025, o salário dos vereadores de Manaus será ajustado para R$ 26.080,98, justificando a aprovação.
Caio André afirmou que “este reajuste é uma prerrogativa legal e ocorre no final de cada legislatura. Não é uma decisão tomada de forma arbitrária”. No entanto, economistas alertam que a medida é controversa, dado o aumento do desemprego e as dificuldades financeiras enfrentadas pela população manauara.
Aumento salarial em tempos de crise
Apesar de estar dentro dos limites legais, o aumento salarial dos vereadores não foi bem recebido pela população, que enfrenta uma economia instável tanto no Brasil quanto no Amazonas. Muitos veem a decisão como desconectada da realidade social da cidade, onde a carga tributária é alta e os serviços públicos são precários, especialmente em saúde, educação e segurança.
O último ajuste salarial ocorreu em 2020, quando os vencimentos passaram de R$ 15.031,76 para R$ 18,9 mil, também gerando críticas. Este novo aumento de quase 40% parece contradizer o discurso de contenção de gastos e austeridade fiscal.
“Enquanto o povo luta para sobreviver com salários baixos e altos preços de produtos básicos, a Câmara Municipal dá a si mesma um aumento generoso. Não é o momento para isso”, criticou um morador de Adrianópolis.
Plano de saúde VIP para ex-vereadores
Além dos aumentos salariais, a sessão aprovou um projeto que estende o plano de saúde dos vereadores da CMM a ex-parlamentares e seus familiares. A medida, que foi aprovada sem grandes debates, gerou críticas por ser vista como um “benefício vitalício” que favorece uma pequena elite política. Apesar de a CMM afirmar que os ex-parlamentares arcarão com os custos do plano de saúde, muitos questionam a transparência e a necessidade de tal benefício para quem já concluiu seu mandato.
“O tipo de benefício deveria ser repensado. Já basta a falta de transparência no uso dos recursos públicos; agora querem garantir assistência médica de forma vitalícia para quem já cumpriu seu mandato”, declarou um líder comunitário da zona Norte.
Apesar de não acarretar custos para o Legislativo, o fato de a medida beneficiar ex-parlamentares que não se reelegeram levanta dúvidas sobre as reais intenções por trás da proposta.
Falta de prioridades
O aumento salarial e a concessão de benefícios a ex-parlamentares, em um momento de crise econômica, criam uma disparidade preocupante entre a classe política e a população. Com Manaus enfrentando sérios problemas de infraestrutura, saúde e segurança, muitos acreditam que os vereadores deveriam focar em projetos que realmente beneficiem os cidadãos, ao invés de priorizar aumentos salariais e vantagens.
“O povo precisa de soluções urgentes. Não podemos esperar que nossos representantes continuem com esses privilégios enquanto a cidade precisa de investimentos reais em áreas essenciais”, destacou uma moradora do bairro Jorge Teixeira, que enfrenta uma grande carência de serviços públicos.
O impacto do reajuste no orçamento da Câmara Municipal de Manaus ainda será avaliado, mas a percepção de que a classe política está desconectada das necessidades reais da população é crescente. Para muitos, é hora de refletir sobre o papel dos parlamentares em tempos de dificuldade e sobre a necessidade de mais transparência e responsabilidade na gestão dos recursos públicos.